AS DESGRAÇADAS é uma tragicomédia da CIA. AURORAS, livremente inspirada no texto "As Criadas" de Jean Genet.
(jornal Estadão)
Uma instalação formada por 380 lâmpadas
incandescentes delimitam o espaço cênico. A trilha sonora é disparada ao vivo
de acordo com a pulsação da cena. A peça foi Indicada ao Prêmio CPT na
categoria Projeto visual em 2012.
Unindo diferentes linguagens artísticas, como as artes
cênicas e as artes plásticas, além de flertar com o universo das telenovelas
brasileiras de forma bem humorada e áspera.
Dramaturgia é de
Felipe
Sant`Angelo, com
direção de Beatriz
Morelli. O artista plástico Ding Musa assina cenografia e
iluminação, a trilha sonora original é de Bill Saramiolo. No elenco, Giu Rocha,
Mariana Leme
e Rita
Batata.
Em
cena, uma babá devota, uma doméstica insatisfeita com o serviço e uma patroa
que trata suas funcionárias como seres invisíveis. A cenografia suspensa,
formada por 380 lâmpadas incandescentes enfileiradas, delimita o palco onde
acontecem os embates sentimentais, ideológicos e morais entre as personagens. As
atrizes tem autonomia para manipular a luz de dentro do espaço cênico,
direcionando o olhar do público.
A encenação
busca um espaço não realista, onde cada gesto, adereço ou objeto cênico tem sua
função clara. “A síntese é um elemento
fundamental na minha concepção, presente tanto nas ações físicas das
personagens, quanto na composição estética do espetáculo (cenografia, luz,
trilha sonora e figurino). Isso cria um contraponto interessante com o tom
melodramático do texto onde o exagero está declarado. Recortes na encenação verticalizam, de forma bem humorada, os
delírios das personagens. Aquilo que estamos acostumados a esconder por trás da
máscara social, é revelado para o público”, conta Beatriz Morelli.
C o n f l i t o s
d e c l a r a d o s
(Revista DaHora do jornal Agora)
Graça (Rita Batata) é uma babá tão devota ao trabalho que
chega ao extremo de confundir‐se com sua patroa. Dona
Carmen (Mariana Leme) é uma mãe de família que acaba de ser abandonada pelo
marido depois de descobrir, por meio de uma carta anônima, que ele tinha um
caso com uma mulher mais jovem. Lurdes (Giu Rocha) é uma doméstica insatisfeita
com seu trabalho, mas que assume com prazer o papel da opressora quando
descobre que Graça é a autora da carta anônima, e ameaça denunciá‐la caso a babá não faça
todo o serviço da casa por ela. Enquanto D. Carmen trata suas empregadas como
seres invisíveis, Lurdes e Graça travam uma batalha que fatalmente chamará a
atenção da patroa e levará seu lar à derradeira ruína.
A
montagem provoca o espectador ao fazer uma reflexão sobre as relações sociais,
e estabelece na arena dos embates sentimentais, ideológicos e morais das
personagens, uma possibilidade de identificação, questionamento e troca com o
público. Apropria-se desta linguagem para fazer uma crítica sarcástica da
relação patroa/empregada e das relações afetivas de submissão.
A
cenografia de Ding Musa sugere um ambiente intimista e claustrofóbico e foi
criada a partir da leitura do texto Entre
Quatro Paredes, de Jean-Paul Sartre. “Quando
li o texto do Felipe Sant’Angelo pela primeira vez, tive a imagem dos personagens
tendo de se resolver dentro de um ambiente fechado e pequeno, que me lembrou
muito o texto de Sartre. A ideia foi tirar os aspectos realistas e criar um
ambiente que apenas sugerisse um espaço de arquitetura fechado, iluminado como
um todo, onde ficassem mais evidente as relações que se estabeleceriam entre os
personagens. Como uma forma de purgatório,
ou limbo, onde todas as questões pendentes precisassem ser esclarecidas. Os
objetos de cena, com exceção da
taça e do chapéu, foram reduzidos a um banco, uma caixa de jóias e uma
mamadeira de vidro, para que o texto fosse valorizado e ficasse ainda mais
evidente esse aspecto de um lugar etéreo, onde questões que sobressaem o mundo
precisassem ser resolvidas”, conta o
cenógrafo.
A trilha sonora original do Bill
Saramiolo pontua e colore a atmosfera da peça. É executada ao vivo, por meio de
um equipamento eletrônico que dispara as faixas em tempo real, em sintonia com
a pulsação das atrizes. O figurino de Mira Andrade é atemporal, mas toma como
referência elementos que sintetizam o vestuário da alta burguesia francesa
da época do Pós-Guerra, mesmo período que foi escrita a peça As Criadas,
de Jean Genet.
N O S P A L C O S
Após estrear no Sesc Santos, em 2010, As
Desgraçadas cumpriu temporada no Sesc Consolação e Oficina Cultural Oswald
Andrade, concorrendo ao prêmio CPT-2012 (da Cooperativa Paulista de Teatro) na
categoria Projeto Visual - que contempla cenografia, direção, figurino e
maquiagem do espetáculo - ao lado do Teatro da Vertigem.
Participou dos festivais “ABRIL PRA CENA 2012 – Festival de Teatro da
cidade de Registro” e “FESTA 2012 – Festival Santista de Teatro”.
Se apresentou no teatro de
diversas unidades do CEU, e ainda no SESC BAURU.
Realizou em 2013 uma terceira temporada paulista no teatro Cacilda Becker. E ainda representou o Brasil no 5º FESTLIP - Festival de Teatro da Língua Portuguesa, se apresentando no Rio de Janeiro.
A s
a t r i z e s e s u a s p e r s o n a g e n s
(jornal Diário de SP)
Giu Rocha – Lurdes, a
faxineira “A Lurdes é a personagem que de cara expõe seu lado podre sem
melindres. Essa é sua força, sua arma de proteção e sua graça. Ela é a
faxineira e carrega a simbologia de quem "mexe com a sujeira" com o
lado escuro. Seu humor mora exatamente na clareza que ela tem da sua
"maldade" e na maneira leve com que ela encara sentimentos como a
inveja e a cobiça. Essas características refletem fisicamente em uma partitura
que privilegia o plano baixo (está quase sempre no chão), um
timbre que passeia por regiões mais graves e tempos de resposta mais
esgarçados e debochados. É uma personagem cheia de dicotomias, onde habita a podridão e
a leveza, a sombra e o deboche, a inveja e a brincadeira.”
Mariana Leme – D. Carmen, a patroa “Ela é uma mulher insegura, que vive de aparências e relações
superficiais. De origem abastada, nunca se esforçou para conquistar nada. O
marido e o filho são objetos de consumo, peças que comp õem o modelo
"socialite" de alto nível. D. Carmem vive em um mundo à parte,
uma vida fantasiosa e de extrema instabilidade emocional, onde não dirige a
palavra -- nem sequer o olhar -- para suas empregadas; conversa com elas por
meio do filho, sendo assim autoritária e por vezes opressora. A rejeição do
marido é a constatação de sua solidão. Este abandono se torna uma força
propulsora, um mecanismo de catarse e que a leva à loucura. Desesperada e consumida
pelo cansaço, a personagem, que por vezes tira risos da plateia com ações
absurdas, acaba agindo num misto de representação e verdade absoluta.”
(guia do jornal Folha de SP)
Rita
Batata – Graça, a babá “A Graça é uma personagem
extremamente sincera, quase ingênua, que se anula em nome das pessoas pelas
quais tem afeto e amor. A fé é o combustível dela e dessa maneira me apropriei
de alguns apontamentos no texto dramatúrgico. Radicalizei assumindo a Graça
como uma pessoa religiosa, que crê no divino, no amor, no ser humano. É uma
personagem transparente. Para conquistar essa qualidade me utilizei da
linguagem do clown que é em sua essência a própria sinceridade. Numa
devoção absoluta, ela exerce uma relação de espelhamento com a patroa, nutrindo
uma relação fantasiosa ao ponto de se anular como indivíduo.”
F i c h
a t é c n i c a
DRAMATURGIA: Felipe
Sant'Angelo
DIREÇÃO: Beatriz Morelli
ELENCO: Giu Rocha, Mariana Leme e Rita Batata
CENOGRAFIA, ILUMINAÇÃO E FOTOS: Ding Musa
CENOTÉCNICO: Pedro Terra
OPERAÇÃO DE LUZ: Luz Lopez
TRILHA SONORA ORIGINAL: Bill Saramiolo
MÚSICOS: Marcio Roldan, Rafael Costa, Martin Mirol
EXECUÇÃO DE TRILHA: Bill Saramiolo
FIGURINO: Mira Andrade
ASSISTENTE DE FIGURINO: Rita Batata
PREPARAÇÃO VOCAL: Pedro Granato
PRODUÇÃO: Cia. Auroras